Projeto de Pesquisa – elaborando uma questão

Seu TCC é, na verdade, uma prova. Só que uma prova na qual você mesmo vai elaborar a pergunta. Que tipo de pergunta você prefere responder? Perguntas dissertativas, ou perguntas com um objetivo claro e definido?

Este é mais um post da série “Projeto de Pesquisa”. No post anterior vimos uma distinção funcional entre os conceitos de tema, assunto e problema (clique aqui para acessar).

Vamos praticar agora a elaboração de uma pergunta problema.

Lembre-se da matéria mais chata que você cursou na faculdade. A que você mais odiou, naquela que você faltou o quanto pôde, e quando não pode mais, ficava na sala até responder a chamada e depois ia embora. Aposto que um dos motivos de você guardar tanto desgosto desta matéria é porque o professor fazia perguntas na prova como “Discorra sobre …..” ou “Fale sobre….”

Agora vamos lembrar do oposto. Vamos pensar naquela matéria que você adorou, que se pudesse cursaria de novo. Com aquele professor que você gostaria que ensinasse todos os componentes do curso. Mais uma vez eu suponho (e só suponho, posso estar errado) de que as provas desse professor tinham perguntas claras e objetivas começando com palavras tipo “Como”, “Qual”, “onde”, “porque”; ou perguntas de verdadeiro e falso, onde ele pedia para você começar com um juízo (verdadeiro ou falso) e depois explicar o porquê do juízo; ou ainda trazia casos específicos para serem analisados com base em alguma teoria ou legislação.

Sabe porque provavelmente você guarda boas lembranças afetivas do segundo professor (e não tão boas do primeiro)? Porque o tipo de pergunta apresentado no segundo exemplo coloca um problema a ser resolvido. E nós, seres humanos, gostamos de resolver problemas.

Delimitando bem a pergunta o professor te dava a oportunidade de saber com precisão qual caminho percorrer para responder à prova. E sabendo qual caminho percorrer – e com qual ou quais autores dialogar – é fácil responder à prova, e mais fácil ainda saber se acertou ou não. Assim, a correção da prova se torna transparente E TRANSPARÊNCIA É UM REQUISITO ESSENCIAL DA CIÊNCIA – UMA CORREÇÃO DE PROVA VAGA, QUE NÃO É TRANSPARENTE E CRITERIOSA, É ANTICIENTÍFICA E IMORAL, revelando um completo descompromisso com a ética e com a atividade cientifica por parte do corretor. Assim, o tipo de pergunta “dissertativa” não traz nenhum parâmetro para te indicar o começou ou fim da questão, ou se você já escreveu o suficiente para saber se atingiu o objetivo proposto. A verdade é que uma prova dissertativa do tipo “fale sobre” ou “discorra sobre” é metodologicamente impossível de ser respondida, além de estar aberta a todos os tipos de injustiças epistêmicas.

Infelizmente o que acontece é que passamos a mais tempo na faculdade respondendo perguntas dissertativas do que perguntas com objetivos claros e definidos. Isso, de certa maneira, acaba por condicionar nos a reproduzir esta estrutura de pergunta em nossa vida acadêmica. Mas é agora que vem a pior parte: à medida em que ficamos cada vez mais aptos em entregar respostas dissertativas, mais perdemos a capacidade de elaborar perguntas objetivas. O resultado disso é uma formação profissional diletante, onde os egressos têm grande lábia, mas pouca capacidade de inovação, de empreendedorismo, de formular perguntas para serem respondidas.

Agora vamos pensar no seu TCC. Seu TCC é, na verdade, uma prova. Só que uma prova na qual você mesmo vai elaborar a pergunta. Que tipo de pergunta você prefere responder? Perguntas dissertativas, ou perguntas com um objetivo claro e definido? Por isso é preciso prestar bastante atenção nesse passo: quanto mais simples e objetiva estiver sua pergunta, mais energia você vai dispor para direcionar sua pesquisa para a resposta, permitindo assim um aprofundamento maior. Quanto mais genérica e dissertante for sua pergunta, mais trabalho ela vai te dar, e ao final, os seus avaliadores não terão nenhum critério objetivo para avaliar o seu trabalho – o que é, no mínimo, muito desconfortável para você e para eles.

Então lembre-se: na hora de elaborar uma pergunta, seja direto, objetivo e específico.

Vamos ao nosso exemplo.

Tema geral: Direito Sanitário

Problema: A efetividade do direito ao esgoto encanado no bairro de Valéria, Salvador, Ba (2016).

Agora vamos transformar esse problema em uma pergunta a ser respondida.

Pergunta: Há efetividade do direito ao esgotamento sanitário no bairro de Valéria, em Salvador Ba, no ano de 2016?

Observe que este tipo de pergunta te permite apresentar uma resposta definida no estilo sim ou não, com a vantagem que você sabe exatamente o que precisa para chegar ao resultado.

Quer saber mais sobre o assunto? Confira o livro de Antônio Joaquim Severino neste link.

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Se você precisar de ajuda com seu projeto de pesquisa entre em contato conosco: metodologicalmind@gmail.com ou nos contate com pelo whatsapp 71 99615-0494.


SOBRE O AUTOR
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Homero Chiaraba é doutorando em direito pelo PPGD/UFBA. Pesquisa democracia e tributação, filosofia do direito e metodologia. http://lattes.cnpq.br/6276642830871448

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